quarta-feira, 31 de agosto de 2011

“Eu Vejo o Futuro Repetir o Passado. Eu Vejo um Museu de Grandes Novidades...”

Qualquer sensação em primeira pessoa ganha em intensidade o que, salvo poucas excessões, perde em clareza. Paixões extremas sob alcunhas tão complementares quanto raiva ou obsessão são exemplos disso. Mas, se muitos insistem em colocar o amor numa esfera à parte, escritores como o turco Orhan Pamuk fazem exatamente o contrário e acabam assim, nivelando o tal sentimento maior a mais humana das condições .
Nas últimas duas semanas visitei seu “Museu da Inocência”, graças a querida Roseli Silva. Percorri uma exposição repleta de contemplação sufocante, paixão solitária, e fragmentos de tempo tão intensos que só os grandes apaixonados conseguem detectar. Em cada “corredor”, a humilhação implacável do julgamento do olhar externo. Em cada uma das 4213 bitucas de cigarro apagadas pelo ser amado ( dispostas na coleção), a vertigem de uma felicidade que sobrevive alheia a tudo. Em cada olhar trocado, a promessa não dita da possibilidade de um futuro comum.
 

Nada disso diz respeito aos casais formados, ou aos esperançosos em busca do encontro. Este museu fala de um estado permanente de entorpecimento que precisa do objeto, mas que consegue sobreviver apesar dele.
Kemal, o personagem principal, é extremamente corajoso não só por deixar uma terceira pessoa (o autor) “encarnar” sua voz, ou por nos permitir percorrer os escaninhos mais profundos e patéticos de sua alma. Kemal é forte porque não tem medo de ser fiel a si mesmo, pela rebelião muda diante de uma sociedade turca tão fechada e principalmente por se permitir a dor, aos erros e as delícias de um grande amor. Quem não se enxergar em, no mínimo, 10% dessa narrativa, que atire a primeira pedra.  Eu? Só tenho a agradecer. Meu museu segue em construção.